quarta-feira, 3 de abril de 2013

Uma sociedade plenamente atenta

Achei muito legal esta entrevista, que a Jeanne Pilli publicou no seu blog (aliás um blog muito legal, cheio de coisas boas). O original está em http://equilibrando.me/2013/04/03/por-uma-sociedade-plenamente-atenta/
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A Atenção Plena (Mindfulness) vai além de simplesmente cultivar nossa atenção?
O que a Atenção Plena promete de mais importante é muito mais do que isso, muito mais profundo. Essa prática nos ajuda a entender que a nossa visão convencional sobre nós mesmos, e até mesmo sobre o que queremos dizer com “eu”, é incompleta em alguns aspectos muito importantes. A Atenção Plena nos ajuda a reconhecermos como e porque tomamos erroneamente a realidade das coisas por uma história que criamos, e então torna possível traçar um caminho para uma maior sanidade, um maior bem-estar e propósito.
Por que você acha que a abordagem científica é importante para disseminar a prática da Atenção Plena?
Eu não estou de fato interessado em “espalhar” a prática da Atenção Plena, tanto quanto estou interessado em inflamar a paixão das pessoas por aquilo que é mais profundo e melhor dentro de todos nós, mas que normalmente está escondido e raramente acessível. A ciência é um modo particular de entender o mundo, que permite que algumas pessoas tenham contato com coisas que de outra forma evitariam e, por isso, pode ser usado como um meio hábil para abrir a mente das pessoas. Ao aproximarmos a ciência da meditação, estamos começando a encontrar novos caminhos, em uma linguagem que as pessoas possam entender, para demonstrar os benefícios de treinar e se familiarizar com o funcionamento da própria mente, de uma forma que gere uma maior compreensão e clareza.
A ciência também está demonstrando benefícios importantes e interessantes dessas práticas e treinamentos mente-corpo para a saúde, e agora está começando a elucidar os vários caminhos pelos quais a Atenção Plena exerce seus efeitos sobre o cérebro (regulação emocional, controle cognitivo, atenção, ativação de mapas somáticos específicos, espessamento cortical em regiões específicas) e sobre o corpo (redução de sintomas, maior bem-estar físico, melhora da imunidade, regulação epigenética de atividade em um grande número de genes). Também está se demonstrando que a meditação pode trazer um senso de significado e propósito para a vida, com base na compreensão da não-separação entre si mesmo e o outro. Dada a condição em que nos encontramos hoje em dia no planeta, entender nossa interconexão não é um luxo espiritual, é um imperativo social.
Três ou quatro séculos atrás, não muito tempo, as pessoas praticavam a meditação sob condições razoavelmente isoladas, principalmente em monastérios. Agora a meditação está sendo praticada e estudada em laboratórios, hospitais e clínicas, e até mesmo em escolas primárias e secundárias. As pessoas que ensinam e pesquisam estão, em muitos casos, envolvidos com as práticas de Atenção Plena há 10, 20, 30 ou mais. Eles não estão simplesmente aderindo a algum movimento novo. O trabalho dessas pessoas resultou em muitos profissionais sendo atraídos para a prática de Atenção Plena, pela primeira vez. Isso em si é um fenômeno maravilhoso, desde que se entenda que a Atenção Plena não é apenas um “conceito” bom, mas uma maneira de ser ortogonal, que requer prática e cultivo constantes.
Quais são as novas fronteiras da Atenção Plena nos últimos anos?
O trabalho com Atenção Plena está se espalhando em áreas além da medicina e da saúde e também para além da psicologia e da neurociência. Está se estendendo a programas sobre parto e paternidade, educação, negócios, atletismo e esportes profissionais, direito, justiça criminal e até mesmo política. Por exemplo, Tim Ryan, um deputado democrata de Ohio, tornou-se um grande defensor de um maior apoio para pesquisa e implementação de programas de Atenção Plena, tanto na saúde quanto na educação, com base em suas próprias experiências com a prática contínua. Em muitas áreas diferentes, está se reconhecendo o quanto mente e corpo são e sempre foram axiomáticos. Precisamos aprender a ser muito mais sintonizados com esse diálogo e participar ativamente, se quisermos que funcione efetivamente e otimize a nossa saúde e bem-estar.
A sincronização entre mente e corpo pode trazer mais benefícios do que funcionar de forma eficaz?
A consciência da qual estamos falando quando estamos usando o termo “Atenção Plena” abrange também as motivações de nossas ações, por exemplo, as maneiras pelas quais somos movidos por auto-engrandecimento ou ganância. Na crise financeira de 2008-2009, vimos os efeitos da ganância em grande escala nos bancos e companhias de seguros. Para curar essa doença não será suficiente apenas prestar socorro, pacotes de estímulo, e magicamente criar maior confiança na economia. Precisamos criar um tipo diferente de confiança e um novo tipo de economia, uma que não se baseie em gastos sem sentido, mas em direcionar recursos para o bem maior de cada um, da sociedade e do planeta. A Atenção Plena pode ajudar a abrir as portas para isso, ajudando-nos a ir além das abordagens que se baseiam apenas no pensamento conceitual e que são movidos pela ganância sem limites e legalmente sancionada.
Parece que a noção de que seremos capazes de pensar uma saída para nossos grandes problemas tem perdido o prestígio recentemente.
Esse é um ponto chave. Até mesmo pessoas muito, muito inteligentes – e há um monte delas ao nosso redor – estão começando a reconhecer que o pensamento é apenas uma das muitas formas de inteligência. Se não reconhecermos as múltiplas dimensões da inteligência, estaremos prejudicando nossa capacidade de encontrar soluções criativas e resultados para problemas que não admitem correções estreitas. É como ter uma visão linear na medicina que vê os cuidados de saúde apenas como “consertar pessoas” – um modelo de mecânico de automóveis para o corpo, que não compreende cura e transformação, não entende o que acontece quando você harmoniza corpo e mente. O elemento que está faltando nessa compreensão mecânica é a consciência.
A consciência genuína pode modular o nosso pensamento, e assim nos tornamos menos impulsionados por motivações não examinadas de nos colocarmos em primeiro lugar, de controlarmos as coisas para amenizar o nosso medo, de sempre oferecermos nossas respostas brilhantes. Podemos criar uma enorme quantidade de dano, por exemplo, por não ouvir outras pessoas que podem ter diferentes pontos de vista e idéias. Felizmente, atualmente nós temos uma grande oportunidade para equilibrar o cultivo do pensar com o cultivo da consciência. Qualquer um pode restaurar algum grau de equilíbrio entre o pensamento e a consciência, neste exato momento, que é o único momento que qualquer um de nós tem sempre, de qualquer maneira. Os resultados potenciais de aprender a habitar a consciência e trazer maior equilíbrio ao pensar são extremamente positivos e saudáveis para nós mesmos e para o mundo em geral.
Por outro lado, continuar a dominar o planeta como a nossa espécie tem feito nos últimos seis ou sete mil anos poderá ser muito pouco saudável. A despeito da beleza advinda da civilização, poderemos seguir em um caminho de transtornos colossais que, basicamente, resultam de uma mente humana que não faz as pazes consigo mesma – guerra, genocídio, fome, respostas grosseiramente inadequadas a desastres naturais. Esses transtornos podem destruir tudo o que nos é mais caro.
Anteriormente, você falou sobre a promessa de a Atenção Plena ser muito mais do que simplesmente focar a atenção. Poderia comentar quais são as chaves para obtermos os efeitos mais profundos dessa prática?
Em última análise, o caminho é incerto. Tudo o que podemos fazer é escutar profundamente o chamado de nossos próprios corações e do mundo, e fazer o melhor que pudermos. Eu enfatizo a universalidade do poder da Atenção Plena e da consciência, mas eu não estou falando de uma igreja universal ou um movimento religioso universal. Estou falando de compreender a natureza do que significa ser humano. Eu nem gosto de usar a palavra “espiritual”.
Podemos simplesmente abordar o que significa ser humano – a partir de um ponto de vista evolutivo, de um ponto de vista histórico? O quê está disponível para nós neste breve momento em que o universo surge sob a forma de um corpo humano e de um ser sensível, e vive 70, 80, ou 90 anos (se tanto), e depois volta a nos dissolver em um oceano indiferenciado de potencial? Uma grande parte do tempo nos tornamos tão egoístas, tão preocupados, que não buscamos o tipo de investigação fundamental proposta por Aristóteles quando fez o comentário de que “Uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”.
Além de desenvolver um vocabulário universal, não religioso, tentei enfatizar a importância crítica do aspecto não-dual da meditação, enfatizando que não se trata de chegar a qualquer outro lugar. Isto, é claro, imediatamente traz uma grande perplexidade para as pessoas, porque quase tudo o que fazemos parece ser uma tentativa de chegar a um outro lugar. Por que diabos você quer chegar em outro lugar? Se você sente muita dor, ou se você tem algum tipo de doença ou o que seja, você sempre quer voltar para o ponto em que estava, ou ir para algum lugar melhor no futuro. Parece quase anti-americano apenas de se contentar com o que é da forma que é, mas isso é uma compreensão equivocada do potencial de viver o momento presente. Não é uma questão de resolver. É uma questão de reconhecer que, em algum sentido, ele nunca fica melhor do que isso.
O que quer dizer?
De forma bem simples, o futuro não está aqui, mesmo que criemos tantas ilusões quantas quisermos. O passado já terminou. Temos de lidar com as coisas como elas são no momento. Então, é mais eficaz lidar com elas, se não perpetrarmos ilusões sobre a natureza de nossa experiência, e, em seguida, nos iludirmos ou termos ambições que nos levam a criar mais mal do que bem.
Quando nós nos iludimos sobre a verdadeira natureza da nossa experiência, não prejudicamos apenas outras pessoas. Nós também prejudicamos a nós mesmos, porque não fazemos as pazes com alguns elementos que compõem o que somos, nossa conexão básica com os outros e com o nosso meio ambiente. Isso é muito triste e muito insatisfatório. Cura e transformação são possíveis a partir do momento que aceitamos a realidade das coisas como elas são – boas, ruins, ou feias – e depois agimos com base nesse entendimento com a imaginação, a bondade e a intencionalidade. Isto não é fácil ou indolor, de forma alguma, mas é ao mesmo tempo uma forma de realização e um caminho para a sabedoria e para a paz.
Neste sentido, estamos tentando criar uma maneira de falar da Atenção Plena como uma prática, um modo de ser, e também como a culminação da prática que em um determinado momento seja tão familiar que as pessoas irão dizer: “É claro, faz sentido. Faz sentido estar no momento presente, para ser um pouco menos crítico, ou pelo menos para estar ciente do quanto eu sou crítico. Como eu não percebi isso antes? É tão óbvio.”
Em quem podemos nos apoiar para levar esta mensagem a mais pessoas?
Este é um grande desafio, considerando o quanto estamos aprisionados e cegos pelo nosso próprio condicionamento. Simplesmente não há bons professores o suficiente. Além disso, nem todo mundo os ouve na linguagem dos veículos tradicionais de meditação. Então talvez precisemos de muitos professores de meditação altamente dedicados e habilidosos, mergulhados em sua própria prática, para atender a necessidade que está esperando lá fora. Há muito sofrimento no mundo. Quem somos nós para não respondermos a isso de alguma forma? É por isso que fazemos muitos esforços para colocar o MBSR (Programa para Redução do Estresse Baseado na Atenção Plena) como formação profissional, para o desenvolvimento de toda uma nova geração de pessoas profundamente embasada nessa expressão universal do Darma e comprometida em trazer isso para o mundo de várias maneiras, como um meio hábil para a cura e transformação em um tempo em que o mundo está clamando por bondade e sabedoria.
O quê é necessário para ensinar a prática da Atenção Plena além de um bom coração?
Se estamos ensinando Atenção Plena em um segmento ou em outro, é realmente necessário que esteja baseado em nossa própria experiência, em primeira pessoa. Precisa ser fundamentada na humildade e no não-saber, uma abertura para a possibilidade, mas também em uma profunda visão de si mesmo e do outro. Uma vez que está disponível para todos, não é realmente um grande negócio ou uma posse privada especial.
Claro, algumas pessoas vão tomar a Atenção Plenas e outras práticas e colocar seu próprio selo sobre elas. Algumas pessoas vão fazer disso uma grande campanha, sem realmente entender sua profundidade, ou tendo uma compreensão apenas parcial. A possibilidade inevitável de que algumas pessoas se aproximem e explorem esses ensinamentos e práticas de forma equivocada é parte do preço do sucesso de trazer a Atenção Plena para uma cultura maior.
Uma das grandes responsabilidades daqueles de nós que estão fazendo este trabalho é nutrir e orientar os mais jovens e aqueles que estão chegando. Podemos lembrá-los, ou esclarecer a eles, que tornar-se um professor de Atenção Plena não é apenas uma moda passageira ou meramente um passo na carreira. O valor da Atenção Plena é profundo e único. Demanda que tenhamos um olhar profundo sobre a natureza da experiência em si, e sobre a natureza das nossas próprias mentes e corações. Este é um tipo de investigação científica, uma vez que a mente é realmente um mistério enorme do ponto de vista científico.
Todo esse trabalho depende de apreciar como a consciência pode equilibrar o pensamento. Não há nada de errado com o pensamento. Muito do que é belo brota do pensamento e das nossas emoções. Mas, se o nosso pensamento não for equilibrado com a consciência, podemos acabar deludidos, perpetuamente perdidos em pensamentos e fora de nossas mentes, justamente quando mais precisamos delas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Calor e seca em agosto

Parece que o clima do RS endoidou de vez.
Em agosto geralmente trabalho na horta cheio de casacos, esperando um dia de sol para aliviar o frio.
Hoje tive uma experiência completamente diferente, suor e vontade de ficar de bermudas e sem camisa. Ontem tivemos uma baixíssima umidade do ar em Porto Alegre. O sol está bem forte e o solo seco dificulta o trabalho. Não dá para descuidar da irrigação, as plantas parecem que murcham ainda mais rápido do que no verão.
Ontem ouvi o sabiá cantando e este cantar é o melhor anuncio desta primavera antecipada.
Olho a previsão, dizem que no final de semana chove e esfria um pouco. Tomara que sim, afinal é agosto. Ou será que o frio voltará em dezembro trazendo neve para o Natal?

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Como cultivar a mente atenta?

Sempre que caminho até a horta procuro seguir a respiração e prestar atenção aos meus passos.
Inspiro, expiro e sinto o contato dos pés com o solo.
Eu procuro fazer o trabalho totalmente presente, com calma, sem desconforto.
Porém, não é tarefa fácil.
Logo que meus dedos começam a retirar as ervas que cresceram demais e estão abafando as hortaliças, minha mente começa a esvoaçar. E, geralmente, não são coisas bonitas que surgem na minha cabeça.
Quando percebo que estou perdido em pensamentos, levanto e paro.
Volto a colocar a atenção na respiração e sorrio para a barulheira mental.
Olho para o verde, deixo que as plantas tragam a calma de volta.
Volto ao trabalho. O automatismo quer me levar a correr e fazer tudo o mais rápido possível. Percebo isso e diminuo o ritmo.
E assim continuo. Me perdendo e me reencontrando entre os canteiros.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Capuchinhas no outono.

As capuchinhas aparecem com o outono.
Muitas plantas estão germinando espontaneamente.
Há papoulas, mostarda, chicória, radiche e outras.
Num pedaço de canteiro que não plantei recebi muitos presentes. São os jardins que Deus planta na mais perfeita ordem. É um canteiro valioso para ensinar o que é a convivência entre as plantas. São consórcios biodiversos que se desenrolam ao longo do tempo.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Seis passos para viver neste momento

Um dos ensinamentos mais simples de entender e um dos mais desafiadores: viver no momento presente. A revista americana Psychology Today criou uma reportagem especial intitulada “A Arte do Agora: Seis Passos para Viver Neste Momento”


(“The Art of Now: Six Steps to Living in the Moment“) listando medidas essenciais para se livrar das inúmeras diversões e ocupações do mundo tecnológico e midiático contemporâneo e conseguir viver, enfim, aqui e agora. “Vivemos na era da distração. Ainda assim um dos paradoxos mais agudos da vida é que seu futuro mais brilhante está na sua habilidade de prestar atenção no presente“.



Os passos foram elaborados pelo jornalista canadense Jay Dixit, aparentemente embasado nos escritos sobre “mindfulness” (“atenção”) do Budismo, Taoísmo, Yoga e muitas tradições nativas americanas. “É o motivo pelo qual Thoreau foi para o Lagi Walden; é sobre o que Emerson e Whitman escreveram em seus ensaios e poemas“, diz Dixit.



“Todos concordam que é importante viver no momento, o problema é como”, diz Ellen Langer, psicóloga em Harvard, autora do livro “Mindfulness” e uma das entrevistadas da matéria.



Abaixo, um resumo dos seis passos, traduzidas para o português. A matéria completa em inglês está aqui.



1. Para melhorar seu desempenho, pare de pensar sobre ele (não-consciência-de-si-mesmo).



“Pensar demais no que você está fazendo faz com que você faça pior o que você está fazendo”, diz a matéria, citando o exemplo de como ficamos nervosos ao entrar numa pista de dança, preocupados demais com como estamos dançando, e prestando atenção de menos na própria música.



Pra conseguir dançar com a música, você é obrigado a entregar sua atenção para o ritmo dela. Ao fazer isso, seu foco muda automaticamente de você e de seu desempenho para a música.



2. Parar evitar ficar se preocupando com o futuro, foque no presente (degustação).



A matéria lembra o livro “Comer, Rezar, Amar”, de Elizabeth Gilbert, que cita uma amiga que, sempre que vê um lugar bonito, exclama alto: “É tão bonito aqui! Quero voltar aqui um dia!”. Gilbert diz que “isso exige todas as minhas energias persuasivas para convencê-la que ela já está aqui”.



Diz a matéria: “Frequentemente nós ficamos tão emaranhados em pensamentos do futuro e do passado que esquecemos de experimentar, e ainda menos de curtir, o que está acontecendo agora. Nós tomamos um gole de café e pensamos, ‘Não está tão bom quanto o que tomei semana passada’. Comemos um biscoito e pensamos, ‘Espero que o biscoito não acabe’.



3. Se você quer ter um futuro no seu relacionamento, habite o presente (respire).



Whitney Heppner e Michael Kernis, da Universidade de Georgia (EUA), dizem que “a atenção neutraliza os impulsos agressivos nas pessoas”, informa a matéria. Reduz o envolvimento do ego, aumenta o auto-controle e “faz você perceber o que os budistas chamam de ‘reconhecer a faísca antes da chama’”.



4. Para aproveitar ao máximo o tempo, perca a noção dele (fluxo).



Esse é um tema meio esotérico, mas que os psicólogos estão tentando explorar cada vez mais: o que chamam de fluxo (flow). “O fluxo acontece quando você está tão compenetrado numa tarefa que perde noção de tudo que está em volta de você”, diz a matéria. “O fluxo incorpora um aparente paradoxo: como você poderia estar vivendo no momento se você não está nem consciente dele?”



A matéria não responde a esse paradoxo, mas é uma questão interessante. Talvez exista uma mistura na interpretação dessa pergunta, entre atenção e uma quase-obsessão na ação de uma tarefa. Tema para outro post – ou talvez para algum discurso já pronunciado que nos ajude a entender melhor (se alguém tiver uma fonte e puder compartilhar, o Dharmalog agradece).



5. Se algo está lhe incomodando, mova-se em direção a ele e não para longe dele (aceitação).



Esse é um dos mais interessantes, pois ajuda a desbloquear padrões mentais e emocionais que certamente iriam voltar para lhe incomodar no futuro. A matéria aconselha “estar aberto para o modo como as coisas são em cada momento sem tentar manipular oumudar a experiência – sem julgar, se apegar ou evitar”.



6. Saiba que você não sabe (engajamento).



Essa lembra o conhecido adágio do filósofo grego Sócrates: “Tudo que sei é que nada sei”. Ellen Langer, aquela psicóloga entrevista pela matéria, diz que “a melhor maneira de evitar blackouts é desenvolver o jábito de estar sempre notando coisas novas em qualquer situação que você esteja”.



E completa: “Nós nos tornamos indiferentes porque uma vez que achamos que sabemos algo, paramos de prestar atenção a isso”.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

entrevista com Pierre Rabhi

Conheci ontem e virei fã. Fico feliz que encontrar ressonância em minha percepção do mundo. Agradeço a Pierre Rabhi, por aglutinar agricultura, beleza e simplicidade. E, sobretudo, obrigado ao Insituto Humanitas Unisinos por trazer estas pérolas e compartilha-las.

Pensador da ecologia concreta e agricultor, Pierre Rabhi promove há décadas um ideal de vida sóbrio e uma mudança global da sociedade.




A reportagem é de Teicir Ben Naser, publicada na revista Témoignage Chrétien, 05-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.



Eis a entrevista.



É possível realmente fazer a revolução cultivando o próprio jardim, como parece que você propõe?



Cultivar o próprio jardim é um ato político e um ato de resistência. Vivemos em um sistema totalitário que não diz seu nome: as multinacionais impõem as suas regras a toda a sociedade. Esse sistema nega aos cidadãos a possibilidade de serem autônomos. É hora de passar de cidadãos passivos para cidadãos ativos. A ação, ainda que pequena, pode contribuir para uma insurreição global, uma insurreição das consciências. Uma vez que haja essa conscientização, tudo é possível.



Hoje, podemos ler e ouvir por toda a parte que o mundo vai mal. Mas dizer isso não basta. É preciso propôr uma alternativa para destravar o movimento. É preciso associar o dizer e o agir: o que eu digo eu faço. Se hoje tenho essa credibilidade junto a um certo público, é justamente porque eu não permaneci no espírito doutrinário das coisas e tentei que se pudesse viver de forma diferente: alimentar-se de forma diferente, construir de forma diferente, tratar-se de forma diferente, cultivar de forma diferente.



Como começou a sua trajetória "insurrecional"?



Fui com outras pessoas para a região de Ardèche no início dos anos 1960. Comprei uma fazenda, me formei no ofício de agricultor e em agronomia. Vivemos 13 anos sem eletricidade, com pouquíssima água e uma estrada mal e mal trafegável. A escolha do lugar não respondia apenas a critérios agronômicos. Mas quando descobrimos a beleza daquele lugar, dissemos: "É aqui que queremos viver".



O essencial para nós era que este lugar nos alimentasse interiormente. Foi este lugar magnífico que nos deu tanta força, tanta coragem e energia. Assim, a nossa escolha não foi racional, mas derivava de uma busca. Estávamos em uma lógica de simplicidade deliberada. Além disso, nos contentamos com trinta cabras, enquanto todo mundo nos dizia que podíamos dobrar o nosso rebanho. Escolhemos a simplicidade como arte de viver.



Às vezes, você diz ter "uma contenda com a modernidade". O que pretende dizer com isso?



O progresso que nos foi vendido com a modernidade é uma ilusão. Não liberta, aprisiona. Desde a escola materna até a universidade, as pessoas ficam trancadas, todos trabalham em grandes ou pequenas "caixas" e se deslocam fechados em "caixas" (os carros). Depois, colocam-se os idosos em caixas para velhos à espera de da última caixa. O percurso de vida passa de um aprisionamento a outro com o mesmo sininho: "liberdade", "liberdade".



Mas onde está essa famosa liberdade? Para mim, eu a encontrei na simplicidade e na sobriedade, e não no "sempre mais" que está na base da ideologia moderna do progresso e que nos destrói, assim como destrói o planeta. Na minha campanha de 2002, fui o primeiro a pôr em discussão a ideia de crescimento econômico. A verdadeira provocação hoje é falar de decrescimento, evocar a possibilidade de rever as nossas atividades de modo a responder às nossas necessidades legítimas e reduzir a margem do supérfluo.



É preciso pôr em primeiro plano a tradição, contra o progresso?



É uma pena que tradições magníficas tenha se perdido. Isso realmente me desagrada. Eu trabalhei em Cévennes, por exemplo, onde conheci o que restava da verdadeira vida rural. Eu vivia com camponeses simples e tranquilos. O seu ritmo era cadenciado pelas estações. Estavam em osmose com a natureza. Além disso, você já percebeu? O agricultor não corre quase nunca e, quando corre, é desajeitado.



Por quê? Porque, em alguns aspectos, ele é regulado pela cadência da própria vida. Ele sabe muito bem que não se pode acelerar a frutificação de uma árvore. Você pode até se agitar, mas a macieira não lhe dará as suas maçãs antes de quando decidiu dá-las. Essa cadência eterna data das origens da humanidade. Com o mundo moderno, chegou a pressa, a aceleração, a velocidade e aquele ditado surpreendente que nos diz que "tempo é dinheiro".



Mas é realmente possível viver não de acordo com o ideal de modernidade?



Eu não defendo uma recusa radical da modernidade. O que eu reivindico é o direito ao inventário. E o mínimo que podemos dizer é que ele faz pensar. Hoje, as pessoas estão em superatividades, olham continuamente para as horas, tudo deve acontecer às pressas. De que servem as máquinas que inventamos? Certamente, não para aliviar as nossas vidas. Eu também possuo um carro e não uso velas para iluminação. Mas refletamos por um momento: todo o sistema moderno ruiria se não houvesse mais eletricidade ou combustível. O pequeno agricultor de Burkina Faso, ao contrário, continuará trabalhando a sua terra tranquilamente.



Nós nos tornamos dependentes das máquinas que criamos. Estamos continuamente na frente das nossas telas, com aquela necessidade permanente de estarmos "conectados". E essa dependência começa cada vez mais cedo. Até mesmo antes de tomar consciência da vida e de si mesma, a criança já está no virtual. Queima etapas fundamentais na sua relação com a matéria, com o tangível. Essa desvitalização precoce terá consequências. Estamos confundindo comunicação e relação. Que paradoxo: os instrumentos de comunicação fazem com que cada um fique em sua própria casa. Se existem extraterrestres, estou certo de que dizem entre si: "São superdotados, mas estúpidos".



Você foi muçulmano e depois cristão. Como a religião inspirou o seu pensamento?



Provavelmente, participou de alguma forma. A personalidade de Jesus, daquele homem nascido na Palestina e que prega o amor como a maior força que pode existir, me marcou muito. Mas adquiri um grande respeito pelas minhas duas religiões. Quando me interessei pela natureza e me tornei ecologista, entrei no mundo do grande mistério da vida. Às vezes, eu digo às pessoas: peguem uma semente de tomate, coloque-a na palma da sua mão e medite. Diga-se que há toneladas de tomates nessa semente. Há algo de incrível.



Neste momento, estou escrevendo o prefácio de um livro sobre agroecologia, onde parto da teoria de Lavoisier que diz que "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Isso me causa problemas. Se nada se cria, então não há criador. Mas quando observo com amor e atenção a natureza e a vida, e medito sobre elas, não chego a concluir de que não há inteligência por trás de tudo isso. Inteligência e benevolência. Ora, eu não tenho respostas para essas perguntas. O que define Deus é o silêncio. Você pode sentir a sua presença profundamente. Com relação ao resto...



O que a atual crise econômica lhe inspira?



É preciso pôr-se de acordo sobre o que significa a palavra "economia". Hoje, parece que a economia consiste em buscar a melhor forma de fazer o máximo de lucro. E, partindo dessa definição, o planeta se torna uma jazida de recursos que devem ser transformadas em dólares. Se hoje há uma crise, é porque o dinheiro se tornou a única unidade de medida comum. Decretou-se que os países ricos em dólares ou em euros são os mais avançados economicamente. Que absurdo! Tirou-se da economia tudo o que não se traduz em dinheiro. Uma mãe de uma família que se ocupa do seu filho e os milhares de gestos que fazemos todos os dias nunca são levados em conta como parte da economia. Por quê?



Reflita por um instante sobre o incomensurável absurdo de uma frase como: "Neste país, as pessoas vivem com menos de um dólar por dia". Conheço vilarejos inteiros de 200 ou 300 habitantes que, todos juntos, não possuem mais do que 100 euros. Às vezes é trágico. Mas às vezes não. Essas pessoas vivem. Vivem das suas terras, do seu "saber-fazer", do seu esforço pessoal ou mesmo das sementes que possuem. É isso que lhes faz viver, não os dólares. O sistema econômico atual criou muito mais precariedade – tanto econômica, quanto psicológica ou espiritual – do que suprimiu. Para sair desse sistema, é preciso que a sociedade civil ponha em ação uma economia relocalizada, uma microeconomia que mobilize o máximo de pessoas de um determinado território.



Mas im número crescente de pessoas parece se preocupar com o ambiente, começa a comer produtos orgânicos... Isso deveria tranquilizá-lo.



De fato, é sempre uma alegria saber que muitos dos nossos concidadãos optam por comer de forma diferente, embora isso continue sendo anedótico com relação ao que está em jogo. No entanto, é preciso continuar. Além disso, se lançamos a campanha "Todos os candidatos de 2012 com o Movimento dos Colibris" (www.colibris-lemouvement.org), é justamente para trazer para exaltar e evidenciar essas iniciativas criativas que podem parecer limitadas no início. Muitas pessoas demonstram que é possível se alimentar de forma diferente, aprender de maneira diferente, educar de forma diferente... É o princípio do fermento. Quando fazemos pão, colocamos uma pequeníssima quantidade de fermento, mas ele se desenvolve de forma extraordinária. Acredito profundamente que essas iniciativas podem desempenhar um papel na mudança das nossas sociedades.



Uma vida



1938 – Nascimento de Pierre Rabhi em um oásis do sudeste argelino. Aos cinco anos de idade, foi confiado a um casal de europeus.

1960 – Sai de Paris para se estabelecer em uma fazenda em Ardèche. Forma-se em agricultura e se opõe à lógica produtivista.

1972 – Descobre a agroecologia, ou seja, como associar produção agrícola, proteção e regeneração ambientais. Ele aplica esse saber adquirido em sua fazenda e o transmite desde o fim dos anos 1970 em todo o mundo.

Livros



Du Sahara aux Cévennes: itinéraire d'un homme au service de la Terre-Mère (autobiografia), Albin Michel, 2002

Graines de possibile, regards croisés sur l'écologie, con Nicolas Hulot, Calmann-Lévy, 2005

Conscience et environnement, éditions du Relié, 2006

Manifeste pour la Terre et l'Humanisme. Pour une insurrection des consciences, Actes Sud, 2008

Éloge du génie créateur de la société civile, Actes Sud, 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Plantei milho e abobora.
O milho era uma variedade especifica para comer espigas chamada Super Doce Tipo Hawai
A abobora era italiana. Aquela comprida que não gosto. Ou melhor, tem gosto sutil para paladares atentos.
O terreno estava seco. O vento e o sol secam a terra.
No canteiro ao lado, ruculas e rabanetes começavam a crescer. Tão tenras, tão pequenas, tão frageis.
Busquei agua num regador azul e molhei as pequenas plantas.
Aquela papoula diferente floriu hoje. Ela sempre dá uma surpresa feliz em quem observa.
Estou tentando fazer diferente. Estou tentando deixar a mente mais quieta, estou de olho nos pensamentos sofredores. Estou tentando mesmo deixar a mente atenta enquanto movo os dedos.
Tenho pena de arrancar algumas plantas. Hoje, arranquei algumas chicórias que se esticavam rumo ao ceu. Elas querem florescer e eu preciso de espaço para plantar. Deixei algumas para completarem seu ciclo, florescerem e frutificarem e espalharem sementes para nascer novamente ano que vem, no outono.