quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Calor e seca em agosto

Parece que o clima do RS endoidou de vez.
Em agosto geralmente trabalho na horta cheio de casacos, esperando um dia de sol para aliviar o frio.
Hoje tive uma experiência completamente diferente, suor e vontade de ficar de bermudas e sem camisa. Ontem tivemos uma baixíssima umidade do ar em Porto Alegre. O sol está bem forte e o solo seco dificulta o trabalho. Não dá para descuidar da irrigação, as plantas parecem que murcham ainda mais rápido do que no verão.
Ontem ouvi o sabiá cantando e este cantar é o melhor anuncio desta primavera antecipada.
Olho a previsão, dizem que no final de semana chove e esfria um pouco. Tomara que sim, afinal é agosto. Ou será que o frio voltará em dezembro trazendo neve para o Natal?

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Como cultivar a mente atenta?

Sempre que caminho até a horta procuro seguir a respiração e prestar atenção aos meus passos.
Inspiro, expiro e sinto o contato dos pés com o solo.
Eu procuro fazer o trabalho totalmente presente, com calma, sem desconforto.
Porém, não é tarefa fácil.
Logo que meus dedos começam a retirar as ervas que cresceram demais e estão abafando as hortaliças, minha mente começa a esvoaçar. E, geralmente, não são coisas bonitas que surgem na minha cabeça.
Quando percebo que estou perdido em pensamentos, levanto e paro.
Volto a colocar a atenção na respiração e sorrio para a barulheira mental.
Olho para o verde, deixo que as plantas tragam a calma de volta.
Volto ao trabalho. O automatismo quer me levar a correr e fazer tudo o mais rápido possível. Percebo isso e diminuo o ritmo.
E assim continuo. Me perdendo e me reencontrando entre os canteiros.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Capuchinhas no outono.

As capuchinhas aparecem com o outono.
Muitas plantas estão germinando espontaneamente.
Há papoulas, mostarda, chicória, radiche e outras.
Num pedaço de canteiro que não plantei recebi muitos presentes. São os jardins que Deus planta na mais perfeita ordem. É um canteiro valioso para ensinar o que é a convivência entre as plantas. São consórcios biodiversos que se desenrolam ao longo do tempo.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Seis passos para viver neste momento

Um dos ensinamentos mais simples de entender e um dos mais desafiadores: viver no momento presente. A revista americana Psychology Today criou uma reportagem especial intitulada “A Arte do Agora: Seis Passos para Viver Neste Momento”


(“The Art of Now: Six Steps to Living in the Moment“) listando medidas essenciais para se livrar das inúmeras diversões e ocupações do mundo tecnológico e midiático contemporâneo e conseguir viver, enfim, aqui e agora. “Vivemos na era da distração. Ainda assim um dos paradoxos mais agudos da vida é que seu futuro mais brilhante está na sua habilidade de prestar atenção no presente“.



Os passos foram elaborados pelo jornalista canadense Jay Dixit, aparentemente embasado nos escritos sobre “mindfulness” (“atenção”) do Budismo, Taoísmo, Yoga e muitas tradições nativas americanas. “É o motivo pelo qual Thoreau foi para o Lagi Walden; é sobre o que Emerson e Whitman escreveram em seus ensaios e poemas“, diz Dixit.



“Todos concordam que é importante viver no momento, o problema é como”, diz Ellen Langer, psicóloga em Harvard, autora do livro “Mindfulness” e uma das entrevistadas da matéria.



Abaixo, um resumo dos seis passos, traduzidas para o português. A matéria completa em inglês está aqui.



1. Para melhorar seu desempenho, pare de pensar sobre ele (não-consciência-de-si-mesmo).



“Pensar demais no que você está fazendo faz com que você faça pior o que você está fazendo”, diz a matéria, citando o exemplo de como ficamos nervosos ao entrar numa pista de dança, preocupados demais com como estamos dançando, e prestando atenção de menos na própria música.



Pra conseguir dançar com a música, você é obrigado a entregar sua atenção para o ritmo dela. Ao fazer isso, seu foco muda automaticamente de você e de seu desempenho para a música.



2. Parar evitar ficar se preocupando com o futuro, foque no presente (degustação).



A matéria lembra o livro “Comer, Rezar, Amar”, de Elizabeth Gilbert, que cita uma amiga que, sempre que vê um lugar bonito, exclama alto: “É tão bonito aqui! Quero voltar aqui um dia!”. Gilbert diz que “isso exige todas as minhas energias persuasivas para convencê-la que ela já está aqui”.



Diz a matéria: “Frequentemente nós ficamos tão emaranhados em pensamentos do futuro e do passado que esquecemos de experimentar, e ainda menos de curtir, o que está acontecendo agora. Nós tomamos um gole de café e pensamos, ‘Não está tão bom quanto o que tomei semana passada’. Comemos um biscoito e pensamos, ‘Espero que o biscoito não acabe’.



3. Se você quer ter um futuro no seu relacionamento, habite o presente (respire).



Whitney Heppner e Michael Kernis, da Universidade de Georgia (EUA), dizem que “a atenção neutraliza os impulsos agressivos nas pessoas”, informa a matéria. Reduz o envolvimento do ego, aumenta o auto-controle e “faz você perceber o que os budistas chamam de ‘reconhecer a faísca antes da chama’”.



4. Para aproveitar ao máximo o tempo, perca a noção dele (fluxo).



Esse é um tema meio esotérico, mas que os psicólogos estão tentando explorar cada vez mais: o que chamam de fluxo (flow). “O fluxo acontece quando você está tão compenetrado numa tarefa que perde noção de tudo que está em volta de você”, diz a matéria. “O fluxo incorpora um aparente paradoxo: como você poderia estar vivendo no momento se você não está nem consciente dele?”



A matéria não responde a esse paradoxo, mas é uma questão interessante. Talvez exista uma mistura na interpretação dessa pergunta, entre atenção e uma quase-obsessão na ação de uma tarefa. Tema para outro post – ou talvez para algum discurso já pronunciado que nos ajude a entender melhor (se alguém tiver uma fonte e puder compartilhar, o Dharmalog agradece).



5. Se algo está lhe incomodando, mova-se em direção a ele e não para longe dele (aceitação).



Esse é um dos mais interessantes, pois ajuda a desbloquear padrões mentais e emocionais que certamente iriam voltar para lhe incomodar no futuro. A matéria aconselha “estar aberto para o modo como as coisas são em cada momento sem tentar manipular oumudar a experiência – sem julgar, se apegar ou evitar”.



6. Saiba que você não sabe (engajamento).



Essa lembra o conhecido adágio do filósofo grego Sócrates: “Tudo que sei é que nada sei”. Ellen Langer, aquela psicóloga entrevista pela matéria, diz que “a melhor maneira de evitar blackouts é desenvolver o jábito de estar sempre notando coisas novas em qualquer situação que você esteja”.



E completa: “Nós nos tornamos indiferentes porque uma vez que achamos que sabemos algo, paramos de prestar atenção a isso”.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

entrevista com Pierre Rabhi

Conheci ontem e virei fã. Fico feliz que encontrar ressonância em minha percepção do mundo. Agradeço a Pierre Rabhi, por aglutinar agricultura, beleza e simplicidade. E, sobretudo, obrigado ao Insituto Humanitas Unisinos por trazer estas pérolas e compartilha-las.

Pensador da ecologia concreta e agricultor, Pierre Rabhi promove há décadas um ideal de vida sóbrio e uma mudança global da sociedade.




A reportagem é de Teicir Ben Naser, publicada na revista Témoignage Chrétien, 05-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.



Eis a entrevista.



É possível realmente fazer a revolução cultivando o próprio jardim, como parece que você propõe?



Cultivar o próprio jardim é um ato político e um ato de resistência. Vivemos em um sistema totalitário que não diz seu nome: as multinacionais impõem as suas regras a toda a sociedade. Esse sistema nega aos cidadãos a possibilidade de serem autônomos. É hora de passar de cidadãos passivos para cidadãos ativos. A ação, ainda que pequena, pode contribuir para uma insurreição global, uma insurreição das consciências. Uma vez que haja essa conscientização, tudo é possível.



Hoje, podemos ler e ouvir por toda a parte que o mundo vai mal. Mas dizer isso não basta. É preciso propôr uma alternativa para destravar o movimento. É preciso associar o dizer e o agir: o que eu digo eu faço. Se hoje tenho essa credibilidade junto a um certo público, é justamente porque eu não permaneci no espírito doutrinário das coisas e tentei que se pudesse viver de forma diferente: alimentar-se de forma diferente, construir de forma diferente, tratar-se de forma diferente, cultivar de forma diferente.



Como começou a sua trajetória "insurrecional"?



Fui com outras pessoas para a região de Ardèche no início dos anos 1960. Comprei uma fazenda, me formei no ofício de agricultor e em agronomia. Vivemos 13 anos sem eletricidade, com pouquíssima água e uma estrada mal e mal trafegável. A escolha do lugar não respondia apenas a critérios agronômicos. Mas quando descobrimos a beleza daquele lugar, dissemos: "É aqui que queremos viver".



O essencial para nós era que este lugar nos alimentasse interiormente. Foi este lugar magnífico que nos deu tanta força, tanta coragem e energia. Assim, a nossa escolha não foi racional, mas derivava de uma busca. Estávamos em uma lógica de simplicidade deliberada. Além disso, nos contentamos com trinta cabras, enquanto todo mundo nos dizia que podíamos dobrar o nosso rebanho. Escolhemos a simplicidade como arte de viver.



Às vezes, você diz ter "uma contenda com a modernidade". O que pretende dizer com isso?



O progresso que nos foi vendido com a modernidade é uma ilusão. Não liberta, aprisiona. Desde a escola materna até a universidade, as pessoas ficam trancadas, todos trabalham em grandes ou pequenas "caixas" e se deslocam fechados em "caixas" (os carros). Depois, colocam-se os idosos em caixas para velhos à espera de da última caixa. O percurso de vida passa de um aprisionamento a outro com o mesmo sininho: "liberdade", "liberdade".



Mas onde está essa famosa liberdade? Para mim, eu a encontrei na simplicidade e na sobriedade, e não no "sempre mais" que está na base da ideologia moderna do progresso e que nos destrói, assim como destrói o planeta. Na minha campanha de 2002, fui o primeiro a pôr em discussão a ideia de crescimento econômico. A verdadeira provocação hoje é falar de decrescimento, evocar a possibilidade de rever as nossas atividades de modo a responder às nossas necessidades legítimas e reduzir a margem do supérfluo.



É preciso pôr em primeiro plano a tradição, contra o progresso?



É uma pena que tradições magníficas tenha se perdido. Isso realmente me desagrada. Eu trabalhei em Cévennes, por exemplo, onde conheci o que restava da verdadeira vida rural. Eu vivia com camponeses simples e tranquilos. O seu ritmo era cadenciado pelas estações. Estavam em osmose com a natureza. Além disso, você já percebeu? O agricultor não corre quase nunca e, quando corre, é desajeitado.



Por quê? Porque, em alguns aspectos, ele é regulado pela cadência da própria vida. Ele sabe muito bem que não se pode acelerar a frutificação de uma árvore. Você pode até se agitar, mas a macieira não lhe dará as suas maçãs antes de quando decidiu dá-las. Essa cadência eterna data das origens da humanidade. Com o mundo moderno, chegou a pressa, a aceleração, a velocidade e aquele ditado surpreendente que nos diz que "tempo é dinheiro".



Mas é realmente possível viver não de acordo com o ideal de modernidade?



Eu não defendo uma recusa radical da modernidade. O que eu reivindico é o direito ao inventário. E o mínimo que podemos dizer é que ele faz pensar. Hoje, as pessoas estão em superatividades, olham continuamente para as horas, tudo deve acontecer às pressas. De que servem as máquinas que inventamos? Certamente, não para aliviar as nossas vidas. Eu também possuo um carro e não uso velas para iluminação. Mas refletamos por um momento: todo o sistema moderno ruiria se não houvesse mais eletricidade ou combustível. O pequeno agricultor de Burkina Faso, ao contrário, continuará trabalhando a sua terra tranquilamente.



Nós nos tornamos dependentes das máquinas que criamos. Estamos continuamente na frente das nossas telas, com aquela necessidade permanente de estarmos "conectados". E essa dependência começa cada vez mais cedo. Até mesmo antes de tomar consciência da vida e de si mesma, a criança já está no virtual. Queima etapas fundamentais na sua relação com a matéria, com o tangível. Essa desvitalização precoce terá consequências. Estamos confundindo comunicação e relação. Que paradoxo: os instrumentos de comunicação fazem com que cada um fique em sua própria casa. Se existem extraterrestres, estou certo de que dizem entre si: "São superdotados, mas estúpidos".



Você foi muçulmano e depois cristão. Como a religião inspirou o seu pensamento?



Provavelmente, participou de alguma forma. A personalidade de Jesus, daquele homem nascido na Palestina e que prega o amor como a maior força que pode existir, me marcou muito. Mas adquiri um grande respeito pelas minhas duas religiões. Quando me interessei pela natureza e me tornei ecologista, entrei no mundo do grande mistério da vida. Às vezes, eu digo às pessoas: peguem uma semente de tomate, coloque-a na palma da sua mão e medite. Diga-se que há toneladas de tomates nessa semente. Há algo de incrível.



Neste momento, estou escrevendo o prefácio de um livro sobre agroecologia, onde parto da teoria de Lavoisier que diz que "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Isso me causa problemas. Se nada se cria, então não há criador. Mas quando observo com amor e atenção a natureza e a vida, e medito sobre elas, não chego a concluir de que não há inteligência por trás de tudo isso. Inteligência e benevolência. Ora, eu não tenho respostas para essas perguntas. O que define Deus é o silêncio. Você pode sentir a sua presença profundamente. Com relação ao resto...



O que a atual crise econômica lhe inspira?



É preciso pôr-se de acordo sobre o que significa a palavra "economia". Hoje, parece que a economia consiste em buscar a melhor forma de fazer o máximo de lucro. E, partindo dessa definição, o planeta se torna uma jazida de recursos que devem ser transformadas em dólares. Se hoje há uma crise, é porque o dinheiro se tornou a única unidade de medida comum. Decretou-se que os países ricos em dólares ou em euros são os mais avançados economicamente. Que absurdo! Tirou-se da economia tudo o que não se traduz em dinheiro. Uma mãe de uma família que se ocupa do seu filho e os milhares de gestos que fazemos todos os dias nunca são levados em conta como parte da economia. Por quê?



Reflita por um instante sobre o incomensurável absurdo de uma frase como: "Neste país, as pessoas vivem com menos de um dólar por dia". Conheço vilarejos inteiros de 200 ou 300 habitantes que, todos juntos, não possuem mais do que 100 euros. Às vezes é trágico. Mas às vezes não. Essas pessoas vivem. Vivem das suas terras, do seu "saber-fazer", do seu esforço pessoal ou mesmo das sementes que possuem. É isso que lhes faz viver, não os dólares. O sistema econômico atual criou muito mais precariedade – tanto econômica, quanto psicológica ou espiritual – do que suprimiu. Para sair desse sistema, é preciso que a sociedade civil ponha em ação uma economia relocalizada, uma microeconomia que mobilize o máximo de pessoas de um determinado território.



Mas im número crescente de pessoas parece se preocupar com o ambiente, começa a comer produtos orgânicos... Isso deveria tranquilizá-lo.



De fato, é sempre uma alegria saber que muitos dos nossos concidadãos optam por comer de forma diferente, embora isso continue sendo anedótico com relação ao que está em jogo. No entanto, é preciso continuar. Além disso, se lançamos a campanha "Todos os candidatos de 2012 com o Movimento dos Colibris" (www.colibris-lemouvement.org), é justamente para trazer para exaltar e evidenciar essas iniciativas criativas que podem parecer limitadas no início. Muitas pessoas demonstram que é possível se alimentar de forma diferente, aprender de maneira diferente, educar de forma diferente... É o princípio do fermento. Quando fazemos pão, colocamos uma pequeníssima quantidade de fermento, mas ele se desenvolve de forma extraordinária. Acredito profundamente que essas iniciativas podem desempenhar um papel na mudança das nossas sociedades.



Uma vida



1938 – Nascimento de Pierre Rabhi em um oásis do sudeste argelino. Aos cinco anos de idade, foi confiado a um casal de europeus.

1960 – Sai de Paris para se estabelecer em uma fazenda em Ardèche. Forma-se em agricultura e se opõe à lógica produtivista.

1972 – Descobre a agroecologia, ou seja, como associar produção agrícola, proteção e regeneração ambientais. Ele aplica esse saber adquirido em sua fazenda e o transmite desde o fim dos anos 1970 em todo o mundo.

Livros



Du Sahara aux Cévennes: itinéraire d'un homme au service de la Terre-Mère (autobiografia), Albin Michel, 2002

Graines de possibile, regards croisés sur l'écologie, con Nicolas Hulot, Calmann-Lévy, 2005

Conscience et environnement, éditions du Relié, 2006

Manifeste pour la Terre et l'Humanisme. Pour une insurrection des consciences, Actes Sud, 2008

Éloge du génie créateur de la société civile, Actes Sud, 2011