domingo, 26 de setembro de 2010

Devagar

Desde pequeno tenho fama de ser lento. E isso era visto como um problema. "Esse guri é uma lesma, um plasta", cansei de escutar. Nas aulas de educação física era um fiasco, sempre por último nas corridas, junto com os gordinhos e mancos, que afinal se tornaram bons amigos.

Depois de tanto tempo hoje percebo que não era um problema e sim uma virtude. E inclusive que desacelerar é necessário para a cura do nosso planeta. Sinto que a pressa torna as pessoas agressivas, desatentas e poluidoras, tudo o que não precisamos mais.

Minha jardinagem é lenta, posso me dar a este luxo. Apesar de muitos impulsos gritarem "Corra, Corra !", prefiro respirar fundo e criar um olhar amistoso e suave. O que nem sempre é fácil.

Então, desde criança, mesmo sem saber sou partidário do movimento Slow. E para encerrar vou colocar esta entrevista com Carlo Petrini, fundador do Slow Food.

Leia devagar.

'Rebelem-se contra a ditadura da velocidade', exorta o pai da Slow Food






Ele cita Sêneca: "A vida não é breve, mas longa. Somos nós que a desperdiçamos". O fundador da Slow Food, Carlo Petrini, combate há 20 anos a ditadura da velocidade, "culpada não apenas pelos males difusos, pelo estresse, pela insatisfação, pela alienação, mas também pela atual crise mundial".



A reportagem é de Alessandra Retico, publicada no jornal La Repubblica, 24-04-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.



Eis a entrevista.



Em que sentido?



As finanças criativas são a "extremização" de um sistema inteiro de valores baseado na velocidade. Criaram uma economia virtual em que o que vale é consumir, e depressa, para recomeçar rapidamente. A essência da nossa sociedade se fundamenta na rapidez, nas necessidades induzidas, nos desperdícios. Um frenesi que nos reduziu a este ponto de recessão, esvaziados de significados e de bens.



A lentidão é um conceito bonito, mas às vezes é vago, anacrônico.



Eu gosto de chamá-la de medicina homeopática. Estaria sendo louco se eu pensasse que ela funciona para todos e sempre, que é um fim em si mesma. Ela é útil se nos confrontar. A lentidão é um governo da própria liberdade. Às vezes, decisões rápidas são úteis, às vezes é preciso refletir. Este é o momento histórico perfeito para recuperar a calma: para não cometer outros erros, para escolher o que mais nos agrada.



Nem sempre é possível, lhe objetariam.



Deixar um e-mail pela metade, estar com quem amamos, comer localmente, inventar o próprio ritmo, decidir que o tempo, e até o tempo livre, existe. Uma alternativa à tirania do mundo globalizado é mais do que possível: basta seguir a terra, a fisiologia da natureza. Faz bem à saúde, constrói uma economia finalmente participativa

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21704

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